terça-feira, 7 de outubro de 2008

RESENHA DO CAPÍTULO “A QUESTÃO MULTICULTURAL”

RESENHA DO CAPÍTULO “A QUESTÃO MULTICULTURAL”
IN: DA DIÁSPORA-IDENTIDADES E MEDIAÇÕES CULTURAIS DE STUART HALL
Marina Borges A. de Souza

Stuart Hall nasceu na Jamaica em 1932, trabalhou na Inglaterra, atualmente está aposentado, porém continua publicando sobre temas da contemporaneidade.
O texto a ser analisado apresenta questões e debate sobre o que serio o termo “multicultural” e seus multiculturalismos. O autor afirma que apesar de este termo ser usado no mundo inteiro não significa que seu significado seja claro, porém não usa-lo não está em questão pela falta de conceitos menos abrangentes e mais explicativos.

A discussão parte da apreensão do que significaria o termo “multicultural” e o que significaria o termo “multiculturalismo”. Segundo o autor multicultural é uma sociedade na qual em seu interior convivem comunidades culturais distintas, e os problemas governacionais que, por esta convivência aparecem. Ou seja, o termo multicultural significa que certa sociedade é culturalmente heterogênea, o que vai totalmente de encontro com o denominado Estado-nação “moderno”, que se pretende homogêneo, apresar de sabermos que em países “construídos” como Israel isso nunca poderá ser uma verdade.

Multiculturalismo seria as estratégias utilizadas pelo Estado para solucionar os problemas gerados pela existência de grupos sociais distintos dentro de uma nação. Porém quando utilizamos o plural da palavra estratégia devemos entender que, por o multiculturalismo não ser uma única doutrina e como sua solução ainda não foi encontrada, diversos tipos de ação poder ser feitos, sem que nenhuma chegue a um final satisfatório. Como dito anteriormente uma sociedade multicultural contém dentro de si diversos problemas, portanto possui também diversos multiculturalismos para resolvê-los. O autor cita seis tipos de multiculturalismo:
Conservador – que acredita que a minoria deve assimilar a cultura da maioria;
Liberal – acredita na inclusão da minoria na cultura da maioria, porém tolera práticas de sua cultura dentro do domínio privado;
Pluralista – concede direitos individuais a cada grupo distinto existente, avaliando a cultura de cada um;
Comercial – acredita que se todos conhecerem as diferenças culturais dos grupos minoritários, os problemas seriam resolvidos no âmbito privado e o Estado não precisaria intervir;
Corporativo – busca o meio-termo através da administração das diferenças das minorias;
Crítico – direciona as atenções do Estado ao poder e a hierarquização das opressões e aos movimentos de resistência.

O multiculturalismo por não ser uma doutrina fechada, gera discussões desde os setores mais conservadores aos mais liberais, exaltando ânimos de Estados e de populações. Mas o que foi que causou todas essas migrações pelo mundo? Sabemos que a migração sempre fez parte do ser vivo, e a razão mais simples é a de busca de alimentos. Os impérios são todos em si multiculturais devido às ondas de conquistas, o que nos faz perguntar por que os EUA insistem em manter suas fronteiras fechadas, não são eles o império do século?
Stuart Hall resume muito bem as razões pelas migrações:
“As pessoas têm se mudado por várias razões – desastres naturais, alterações ecológicas e climáticas, guerras, conquistas, exploração do trabalho, colonização, escravidão, semi-escravidão, repressão política, guerra civil e subdesenvolvimento econômico.”[1]

Após a II Guerra Mundial se intensificou a migração pela destruição de cidades inteiras, pelo fim do velho sistema imperial, etc. Com isso, como já dito anteriormente, o surgimento de novos Estado-Nação “construídos”, faz com que estes próprios encontrem problemas de identidade, nesse contexto de construção de nações, também o conceito de Nação foi esvaziado.

No Oriente Médio existe uma desigualdade estrutural e ainda além, foi também dominado por países do 1º mundo que insistem em encaixar seus modelos pré-fabricados em uma realidade completamente diferente da sua. Problemas de dependência e subdesenvolvimento gerados no colonialismo não foram superados após o término do mesmo.

Já a globalização como se constitui atualmente – associada ao surgimento de novos mercados financeiros – também contribui para o fator multicultural. Ela pretende combinar tempo, espaços e histórias em um tempo global, não percebendo que com isso as relações sociais são minimizadas e as tradições deixadas para trás. Para Stuart Hall a globalização é um processo que se pretende homogeneizante, mas não o é.

Apesar de tudo parecer semelhante aos olhos do Estado, ainda existem as diferenças locais, afinal cada região/comunidade/sociedade vivencia a realidade sob suas próprias perspectivas. O que constitui um novo tipo de localismo segundo o autor, que surge dentro do contexto global. Ele emerge no centro da metrópole ocidental, são “as margens no centro”.

Para explicar esse novo surgimento Stuart Hall aborda o caso britânico que, apresar de sua história nacional pressupor que a cultura da Grã-Bretanha fosse homogênea e unificada até as migrações do pós-guerra, isso é questionável tanto pelos escoceses quanto pelos irlandeses que foram “colonizados” pela Inglaterra, eles são chamados de ingleses, mas um tipo “diferente” de inglês.

Desde o século XVI existe uma migração afro-caribenha para a Inglaterra, e uma migração asiática desde o século XVIII, justamente essas antigas relações de colonização é que iriam marcar o rumo desses imigrantes. Eles não eram bem recebidos, não eram bem quistos, viviam em condições precárias de moradia, tinham péssimos empregos e sofriam todo tipo de preconceitos e racismos. Isso com que pequenos grupos étnicos fossem se formando e se estabelecendo em bairros de Londres. As chamadas comunidades étnicas têm forte senso de identidade e mantém certos costumes e práticas dentro do âmbito familiar.

Como se sentem essas pessoas em relação a isso, inglesas ou do país de origem? Os dois, afirma Stuart Hall, estas são comunidades híbridas.
“Cerca de dois terços dos oriundos de comunidades minoritárias, quando perguntados no Quarto Censo Nacional de Minorias Étnicas se eles se consideravam ‘britânicos’, responderam que sim, embora também sentissem, por exemplo, que ser britânico e paquistanês não era algo conflituoso em suas mentes.”[2]
É assim formada uma nova configuração cultural que não é bem definida e não se pretende ser.

A Inglaterra se pretendia homogênea, e com o surgimento dessas comunidades étnicas entrou em uma crise de identidade nacional. Começaram então a criar significados de termos para designarem as suas duas maiores comunidades não brancas: utilizam o termo raça para os afro-caribenhos, e etnia para os asiáticos. Raça se usa relacionado á cor da pele, e etnia se usa relacionada a características culturais, registros explícitos de racismo.

Stuart Hall aponta para uma incoerência do Estadi denominado liberal. Como o Estado liberal é neutro, deveria garantir a liberdade do indivíduo em buscar suas próprias concepções de vida não importa qual forem dentro do domínio privado. Porém a lei e o Estado intervêm cada vez mais no domínio privado, não existem mais claras distinções entre o público e o privado. Por isso na prática alguns Estados como a Inglaterra são obrigados a adotar o chamado “programa reformista da ‘social democracia’” no qual “o Estado reconhece formal e publicamente as necessidades sociais diferenciadas, bem como a crescente diversidade cultural de seus cidadãos, admitindo certos direitos grupais e outros definidos pelo indivíduo.”[3]

As dificuldades encontradas pela Inglaterra no âmbito da identidade social e em relação aos racismos estão longe de serem ultrapassadas. Ao mesmo tempo em que se pensa que todos devem ter acesso aos mesmo processos que o indivíduo britânico, se revive uma era de preconceitos, racismo e xenofobismos, afirmando que Inglaterra está “poluída”. A Inglaterra deve se repensar em relação ao multiculturalismo e também em relação ao neo-liberalismo, será que esta política é a que melhor se encaixa em sua realidade?





[1] HALL, Stuart – A questão multicultural in: Da diáspora-Identidades e mediações culturais, Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2008, p. 53.
[2] Idem, p.72
[3] Ibidem, p.77

10 comentários:

Anônimo disse...

E?
tststs que lixo

Anônimo disse...

Você tem a resenha do capítulo 3?

Anônimo disse...

Obrigada por ter postado a resenha, Marina. Está muito bem feita. Me ajudou muito.

Anônimo disse...

Obrigada pela resenha, Marina. Está muito bem feita e me ajudou muito.

Anônimo disse...

Obrigada pela resenha, Marina. Está muito bem feita e me ajudou muito.

Cássia Medeiros disse...

Parabéns!!! vc sintetizou o texto muito bem!!!!

Cássia Medeiros disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Por que?

Fla disse...

Obrigada pela resenha.

Unknown disse...

tudo, Marina!!!!
uma ótima escritora, soube passar muito bem as ideias do Stuart.